terça-feira, 30 de março de 2010


BALADA PARA OUTRAS ISABELLAS

Olá! Eu vim lhe contar um pouco da minha história...
Peço atenção, seu “dotô”, um instante, não demora...

Meu nome não é Isabella nem “caí” de uma janela do quarto no sexto andar...(será que pensaram, os insanos, que ela sabia voar?)

Não moro num prédio equipado, não tenho motos, brinquedos, nem piscina pra nadar...
Eu brinco, às vezes, nas poças de chuva, com gatos, latinhas, bolinhas de gude...isso quando não tenho que a mãe ajudar...

Não sei dançar, e não brinco como menina educada, porque aprendi, desde cedo, lá no morro onde nasci, que não importa o sexo da criança: menino ou menina, a experiência, é viver o teatro da sobrevivência...

Não me chamo Isabella... nem fui morta (ainda) por meu pai ou madastra...mas morro um pouco, a cada dia, quando sou espancada.
E morro também,assim, engasgada, obrigada a me calar quando tenho mãos sobre mim...nem sempre a me sufocar, mas explorando, de um jeito esquisito, que nem entendo direito,no meu corpo sem contornos...

Meu nome ,não é Isabella...
Não tenho cabelos lisos,nem tenho olhinhos espertos...
Ao contrário: meus olhos são opacos, talvez, por não querer enxergar
minha dura realidade...

Também não faço teatros, lá no palco da escolinha... isso não é para mim...
Quando vou à escola, é somente p’ra comer a merenda que me dão... pois muitas vezes, em casa, não temos sequer o pão...

O máximo que sei é correr: morro abaixo, morro acima, entre os carros dos sinais...para ganhar um trocado, ou para fugir dos adultos, que insistem em me machucar...

Eu não me chamo Isabella...mas, como ela, (ou até mais!) eu sofro... e diariamente...
Tenho marcas de pancadas, queimaduras de cigarros, tenho ossos fraturados, boca sangrando, hematomas, que mãos e pés gigantescos
me provocam sem motivo...

Não morri, como Isabella...
Ainda não... mas irmãos, amiguinhos, conhecidos, eu sempre vejo morrer...
Quem matou? Nunca se sabe...”ele caiu”, “tropeçou”,”queimou-se por acidente”.
“Estrupada?”, “coitadinha”...
“Não fui eu”, diz o padrasto; “nem eu”, diz a mãe omissa...
E eles não têm nem quem reze para eles, uma missa...

Eu não me chamo Isabella...sou Maria, Rita, João…
Sou Josefina, sou Mirtes, sou Paulo, Sebastião...
Sou tantas, tantas crianças, que todo dia a omissão de todos deixa morrer...

 

Engraçado é que ninguém, faz passeata por mim, a imprensa não divulga, o “figurão” não se importa, a classe média não grita, os ricaços dão de ombros...
Que hipocrisia é essa, de chorar por uma só?
São tantas as Isabelas violentadas sem dó...

Mas que importam os escombros, a escória da sociedade?

Se não me chamo Isabella, não mereço piedade.


(Recebi por email, de um amigo)

quinta-feira, 25 de março de 2010


A criança sensível em uma sociedade hiperativaPDFImprimirE-mail

Por Maeve Vida e Lígia Miragaia

Elas estão entre nós, por toda a parte. É fácil percebê-las. São muito ativas, olhar penetrante, alegres e profundas. Falam coisas que, aparentemente, não tem conexão com a vida que estão vivendo nesse plano. São lembranças de sua alma, fluindo para o dia-a-dia. 

São crianças sensíveis, que vieram com uma missão: juntas ajudarão a  transformar e reorganizar nossa confusa sociedade. Elas estão aqui para nos lembrar que os grandes mestres da Humanidade já nos deram e  ainda nos dão, os variados mapas a escolher, do caminho a percorrer  para encontrar a harmonia dentro de si.

Essas crianças estão chegando com um alerta: parem um pouco,  questionem seus hábitos, acalmem-se, respirem. Vamos juntos nos ajudar a praticar os valores espirituais que temos dentro de nós e  nos perguntar: Quem sou eu? Eu sou essa embalagem que um dia terei que deixar, ou sou algo além dela? Qual é a minha missão maior? Interna ou externa?

Em uma sociedade hiperativa como a nossa, essas crianças são tidas como desajustadas. Elas vêem com propostas 'absurdas' de arranjar tempo para passear de mãos dadas, observar o pequeno mundo mágico dos insetos, que sobrevive em meio ao concreto, de ter tempo livre para uma tarde no parque. Calma! Elas não querem nos fazer mal. Vieram para nos redimir. Para nos fazer lembrar que somos seres perfeitos por herança divina.

Não são elas as hiperativas: somos nós!
Suas almas apenas anseiam por retomar o contato com os ensinamentos espirituais profundos que já tiveram contato e se sentem incomodadas e irritadas quando não são colocadas em um ambiente adequado. Sem contato com a natureza, sem carinho e a atenção que necessitam no dia-a-dia, com excesso de estímulo eletrônico, sem poderem se expressar artisticamente através da música ou da arte, enfim, sem poder exercer sua espiritualidade no cotidiano, sentem-se tolhidas em sua grandeza. Então, como queremos que elas se comportem bem?

Não está sendo oferecido a essas crianças o alimento adequado para sua alma. Não compreendemos que para acalmá-las, basta fornecer a elas a simplicidade de uma vida equilibrada. Permitir que elas possam brincar com objetos simples, instruí-las para sintonizar-se com a Natureza e com a sua própria natureza, viver de acordo com seu ritmo infantil e não ao ritmo acelerado e estressante do universo adulto, serem preservadas de conteúdos que a despertem precocemente para a sexualidade, serem alimentadas com histórias dos heróis de verdade, que ensinam sobre as verdadeiras virtudes e valores, ou seja, anseiam por um alimento espiritual forte e claro, fazendo com que elas se sintam seguras, confiantes e felizes.

Essas crianças querem ser tratadas como almas individualizadas, e estão sedentas do conhecimento divino. Essas crianças sensíveis vieram para nos recordar de tudo isso. E o que nós adultos fazemos com ela? O novo nos causa pânico e mal-estar. As mudanças nos assustam. Os comportamentos não catalogados nos surpreendem.

Levianamente rotulamos essas crianças de hiperativas. Drogamos essas crianças, como fazemos com a nossa criança interior, quando ela pede calma, atenção e aconchego. Não compreendemos a grandeza da missão desses pequenos seres. Não percebemos que eles vieram para nos ensinar que todos precisamos de tempo, amor e proteção. E se quisermos ajudar a reconstruir essa frenética sociedade, precisamos buscar a paz dentro de nós, e não fora.

E em última instância, tudo que essas crianças estão desesperadamente nos cobrando é muito amor. O amor é a chave para a compreensão do seu universo. Dê amor a uma criança assim e ela compreenderá tudo que disser a ela. Mas sem essa chave, nada e ninguém poderá penetrar em seu mundo. Elas podem se tornar autistas, hiperativas ou portadores de doenças graves.

Mas como oferecer isso a elas, se nós adultos não sabemos o que é, onde comprar, como encontrá-lo? É neste ponto que nossa sociedade deve parar e se reajustar. O amor é como uma onda gigantesca, adormecida dentro de nós, que nos envolve totalmente quando permitimos que ele se manifeste, nos dando um tempo para simplesmente existir, sem nenhum tipo de cobrança, explicação ou subterfúgios. Quando permitimos despir a capa do ego e olhar para dentro da alma. Quando deixamos fluir o que somos em essência. Não é algo novo. Ele já está pronto, dentro de nós. 

Precisamos apenas tirar os véus que o recobrem. Os véus da pressa, do egoísmo, da ansiedade, da irritação, da vaidade, da ambição: vejam, quantos véus inúteis para nossa felicidade.

E fazer o caminho de volta para a comunhão com o Eterno, através da oração, da meditação, de uma conversa íntima com Deus, que realmente poderá mostrar onde está essa estrada luminosa que nos levará à compreensão total desses seres divinos, que podem ser nossos filhos, filhos de amigos, nossos alunos, não importa. Todos somos responsáveis pela felicidade das crianças do planeta.
Elas vieram para nos ensinar. Aproveitem!

Maeve D’Lippi e Lígia Schmiegelow são autoras do livro Gandhi, o Herói da Paz e editoras dos sites www.omnisciencia.com.br e www.educacaoparapaz.com.br, mães de três filhos cada uma, profundamente gratas pela oportunidade divina de aprender com esses seres de luz que são seus filhos.

quarta-feira, 10 de março de 2010

DICA DE LEITURA

SEGREDOS DE MULHER - Diálogos entre um ginecologista e um psicanalista


                                  





Autor(es): Alexandre Faisal Cury, Rubens Marcelo Volich
Editora: Atheneu

(FONTE: http://www.livrariaresposta.com.br/v2/produto.php?id=161637 )

Segredos. Eles estão por todos os lugares, em todas as etapas de nossas vidas. Às vezes, se expressam num sorriso contido, discreto. Outras vezes refletem pesar, decepção, dor. Dores da alma. Dores corporais.


Talvez por terem sido silenciadas por tanto tempo, as mulheres parecem guardar mais segredos. Fruto do medo, da injustiça e do desrespeito, os segredos muitas vezes surgem da força, bruta ou sutil, que, ao longo dos séculos, desconsiderou a mulher, sua existência, suas diferenças, seus desejos. Mesmo depois de terem conquistado o voto, de serem reconhecidas em sua igualdade e direitos, muitas ainda se calam, outras têm dificuldade para falar.


No entanto, em alguns momentos, os segredos tornam-se insuportáveis. É quando se busca alívio na confidência, quando um suspiro, um olhar, uma palavra denunciam uma dor que não pode mais ser abafada. Em outros momentos, os segredos contidos podem ainda explodir numa linguagem diversa: a do corpo, dos sintomas, das doenças.


Dos sofrimentos, concretos ou imaginários, que precisam ser compartilhados. Revelados. Os profissionais de saúde são frequentemente destinatários privilegiados desses segredos. Porém, as clínicas ginecológica e psicanalítica se constituem como lugares particulares de revelação e, por que não dizer, liberação. Lugares onde as mulheres, quase sempre sem saber, buscam o reconhecimento de segredos que elas mesmas não sabem existir ou não conseguem compreender.


Do encontro inesperado com algumas dessas mulheres, surgiu este livro.


Ele reúne histórias, algumas angustiantes, outras felizes, de mulheres, casais, filhas e famílias que puderam ser descobertas e compreendidas a partir de um outro olhar para queixas que se manifestavam apenas como sintomas ginecológicos: as dúvidas de uma gravidez, o desconforto de uma dor vaginal, o medo de um tumor, as perdas de um aborto, as dificuldades e prazeres da vida sexual. Nos relatos de cada capítulo, descobrimos como, ao encontrar a escuta atenta do médico, do psicoterapeuta ou de qualquer profissional de saúde, um corrimento pode revelar uma decepção amorosa; um mioma, uma dificuldade conjugal; uma gravidez, os medos mais longínquos da infância.


Por meio de revelações como essas, na clínica, as mulheres muitas vezes descobrem que os segredos, os silêncios e as dores podem não ser mais necessários, que ao falar sobre eles, pode surgir o alívio, e também a possibilidade de transformação.


Quando decidimos escrever este livro, pensamos em reunir nossos olhares, de ginecologista e psicanalista, para tentar promover essa visão ampliada da clínica e do tratamento.


Em nossas conversas, delineamos e esclarecemos as principais circunstâncias médicas e da história pessoal dessas mulheres, sem ter a intenção de esgotar todos os aspectos médicos ou psicológicos relacionados às queixas que apresentavam. No entanto, oferecemos àqueles que se interessarem a possibilidade de ampliar seus conhecimentos sobre cada tema, sugerindo uma série de leituras complementares.


Dessa maneira, cada capítulo desvenda o caráter singular da história, sentimentos e fantasias de cada mulher. Singularidade que inevitavelmente se manifesta também no modo de adoecer, de viver os sintomas, de se curar da doença. Ao final, compreendemos, naturalmente, a importância de considerar, na clínica, que, mesmo compartilhando um mesmo quadro clínico, diferentes mulheres viverão de diferentes formas seus diagnósticos e tratamentos.


Descobrimos ainda que, cada vez mais, as mulheres, mesmo pacientes, desejam falar. Contar o que sentem e vivem. Dar sentido às queixas, mas também às alegrias e conquistas. Protegidas pela ética médica, que norteia a relação entre médico e paciente, podendo se apoiar num interlocutor aberto a ouvi-las, elas conseguem dar voz ao que foi silenciado.


Neste livro, algumas dessas mulheres consentiram em compartilhar suas histórias de forma mais ampla. Não apenas conosco, autores, mas também com outras mulheres e homens que, por meio delas, talvez possam pensar de forma diferente suas próprias histórias. Aceitaram fazê-lo sabendo-se protegidas pelo anonimato de nomes, datas e informações particulares que, aqui, foram modificados para que não pudessem ser identificadas. Apenas a essência do que viveram foi mantida, para que o leitor possa refletir sobre o que nos contaram.


Agradecemos a todas as mulheres que, neste livro e em nossa clínica, nos ajudaram a melhor escutá-las, para que muitas outras possam falar.


Nesta posição privilegiada de ouvinte, nós, o ginecologista e o psicanalista, pudemos, pouco a pouco, revelar os segredos que, nesta coletânea de casos são segredos de mulher, mas poderiam ser segredos de homens, adultos ou crianças, ajudando eventualmente nossas pacientes e dando sentido aos nossos ofícios. Revelando, enfim, num ciclo virtuoso, entre quem cuida e quem é cuidado, nossos próprios segredos.


Sobre o autor


Alexandre Faisal Cury - Médico, formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Mestre pelo Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FCM da Santa Casa de São Paulo, Doutor pela Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina da USP e Pós-Doutor pelo Núcleo de Epidemiologia do Hospital Universitário da FMUSP. Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e em Psicossomática Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo. Presidente da Sociedade Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia Psicossomática e pesquisador do Departamento de Epidemiologia da FMUSP. Autor do livro Ginecologia Psicossomática (SP, Atheneu, 2007) e colunista da Rádio Bandeirantes, Rádio USP e UOL.


Rubens Marcelo Volich - Psicanalista, Doutor pela Universidade de Paris VII - Denis Diderot e professor do Curso de Psicossomática do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Trabalhou nos serviços de oncologia e mastologia do Hospital Saint Louis, em Paris. Coordenou o Centro de Estudos da Mama, com intervenções terapêuticas no Instituto de Ginecologia e Mastologia (IGM) da Beneficência Portuguesa e outros serviços de mastologia de São Paulo. Foi supervisor dos tutores da Residência de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos criadores e supervisor do programa Tutores dos alunos da FMUSP.