quarta-feira, 21 de abril de 2010

Juventude, Meio Ambiente e a complexidade socioambiental




* Por Carolina Campos

                                                             


 "As pessoas precisam compreender a complexidade das relações socioambientais”




As pessoas precisam compreender “o que é meio ambiente” e a complexidade das
relações socioambientais. Como a água, os alimentos e grandes obras de infraestrutura
estão conectados com as florestas, energia, transportes e as pessoas? Todos esses elementos
e temas estabelecem relações uns com os outros, e a visão superficial dessas conexões é um
problema. A compreensão profunda dessa teia viva de relações ainda é falha em toda a
sociedade. Primeiro é preciso compreender essa complexidade, em seguida internalizar que
nossas ações e práticas cotidianas também estão inseridas nesse sistema, ou seja, somos
todos responsáveis por tudo o que ocorre conosco, com a sociedade e com o ambiente que
nos cerca.

A educação ambiental tem um importante papel para o alcance deste despertar. A
ampliação da compreensão do mundo só se dará por meio de um processo de educação
ambiental que de fato trabalhe a percepção da complexidade e da responsabilidade de cada
um de nós e de todos nós juntos. Resgatar princípios e valores é essencial para a mudança
de práticas e hábitos. É importante cuidado, pois muito se fala e faz de educação ambiental
de forma superficial pelo país afora. Não podemos reduzir a educação ambiental à
reciclagem, ao dia do meio ambiente ou a semana da árvore. É preciso uma educação
ambiental permanente, crítica e transformadora.

Até nos governos falta essa percepção complexa. Isso é nítido na visão
desenvolvimentista na qual o crescimento econômico é o herói de todos os problemas do
país e sua população. Desenvolvimento é também qualidade de vida e cuidado com meio
ambiente e com a biodiversidade. Observa-se a marginalização da pauta ambiental ao invés
de sua priorização. O ambiente deve ser o tema central, estruturante de todas as políticas.
Já existem tecnologias e alternativas, faltam investimentos e vontade política. O que está
em jogo é a sobrevivência de todos os seres vivos do planeta.

São necessárias ações interministeriais, integradas entre sociedade, setor privado e
governos municipais, estaduais e federal.

“é papel do movimento ambientalista inserir ainda mais os jovens em seus debates,
ações e contribuir com a formação e a construção de capacidades, assim os jovens
estarão mais preparados para dar continuidade a luta socioambiental”.

Os jovens são importantes sujeitos para a transformação da realidade e estão
trabalhando fortemente com educação ambiental A juventude tem vários modos de
trabalhar, existem várias linhas de ação que cada um adota no movimento que atua, seja
ambientalista, estudantil ou partidário. O que nacionalmente existe mais consolidado é a
educação ambiental. Visualiza-se um avanço do movimento da juventude pelo meio
ambiente, busca-se a criação de agendas comuns e a ampliação da compreensão
entendimento sobre questões técnicas. A transposição do São Francisco, por exemplo,
somos contra ou a favor? Ok, somos contra, mas por quê? Argumentos consistentes e
técnicos são importantes para podermos nos posicionar.

A juventude está se organizando pela Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e
Sustentabilidade (Rejuma), nos Coletivos Jovens de Meio Ambiente, existentes em todos os
estados do Brasil, e nos movimentos estudantis, socioambientais e juvenis. Em parceria
com o Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental muitos jovens atuaram
no processo da I e II Conferências Infanto-Juvenis pelo Meio Ambiente. Essa parceria foi
importante para estimular e possibilitar o encontro de jovens ambientalistas dos quatro
cantos do país.

Praticar educação ambiental nos leva a reflexão cotidiana de princípios, valores e
hábitos. O sistema coloca contradições diariamente na vida de todos e todas, e sabe-se a
força e importância do nosso consumo na teia de relações complexas do ambiente que nos
cerca. Consumo responsável, aí está outro tema presente nas ações e discussões dos jovens
ambientalistas do Brasil.

“Um desafio para o movimento da juventude pelo meio ambiente é fortalecer a pauta
ambiental nos movimentos de juventude”.

Um desafio do movimento da juventude pelo meio ambiente é fortalecer a pauta
ambiental nos movimentos de juventude, assim como fortalecer a pauta juvenil no
movimento ambientalista. ONGs de jovens, que trabalham com cultura, primeiro emprego e
cotas nas universidades, hip-hop, entre outros, precisam ampliar o debate sobre questões
ambientais. Observa-se na criação do Conselho Nacional da Juventude e em conselhos
estaduais e municipais uma série de jovens organizados que estão articulados e
influenciando nas políticas públicas. A pauta ambiental precisa ser fortalecida em todos
esses conselhos e movimentos. A juventude é sim um importante sujeito para a
implementação dessas políticas. A magia dos jovens está na energia, motivação e
inquietação.

É preciso aprofundar a compreensão da sociedade sobre meio ambiente, ampliar a
participação da juventude nos debates, ações e movimentos socioambientais. É também
fundamental o aprimoramento da participação da sociedade nos espaços de decisão e
implementação de políticas públicas. O movimento ambientalista necessita de integração,
união de forças, estratégias, campanhas e ações conjuntas, sinergia nos discursos e práticas.

Carolina Campos é jornalista e educadora ambiental.

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